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"Pensar - quase um fardo"

  • Foto do escritor: Sirius - Astrologia
    Sirius - Astrologia
  • 16 de jun.
  • 2 min de leitura

Vivemos num tempo curioso. Nunca se escreveu tanto, nunca se falou tanto - mas nunca se entendeu tão pouco. Frases simples, diretas, carregadas de sentido claro, hoje tornam-se enigmas para mentes distraídas. As palavras chegam aos olhos, mas não tocam o pensamento. Lê-se, mas não se entende; ouve-se, mas não se processa - o essencial perde-se no ruído constante de opiniões rápidas e certezas frágeis.

 

Não é só incapacidade intelectual - é cansaço, preguiça mental, é a urgência de consumir o próximo conteúdo antes mesmo de digerir o atual. A interpretação exige pausa, exige presença - e isso, num mundo de pressas e notificações, tornou-se quase um luxo.

 

Ao mesmo tempo, o facilitismo cresce; tudo deve ser simples, mastigado, pronto para consumo. Pensar é um esforço que muitos evitam. Questionar? Só se for fácil. Enfrentar dificuldades? É melhor passar etapas. A profundidade cede lugar à superfície, e o mérito dissolve-se em fórmulas prontas.

 

Nesta sociedade de atalhos, até o óbvio precisa ser explicado com cuidado, porque qualquer desconforto é visto como ofensa. E assim, criamos gerações que leem instruções, mas não entendem o espírito; que ouvem conselhos, mas não absorvem o sentido; que pedem tudo fácil, mas fogem do esforço que constrói o caráter.

 

E há ainda a falta de empatia, essa incapacidade crescente de se colocar no lugar do outro; cada um fala a partir da própria dor, mas poucos se dispõem a escutar a dor alheia. O outro virou um obstáculo e não espelho. Sentir o que o outro sente cedeu lugar ao julgamento rápido, muitas vezes vazio, vindo de mentes rasas que não suportam o peso de uma emoção que não seja a sua.

 

As mentes rasas não mergulham - ficam a boiar em certezas frágeis, incapazes de navegar pelas complexidades humanas. Confundem opinião com verdade, reação com reflexão, e qualquer divergência com ameaça pessoal. A empatia exige profundidade, mas a profundidade exige esforço - e o esforço, como já vimos, virou exceção.

 

Não é só a linguagem que é mal interpretada - é o próprio mundo. E a responsabilidade por isso é coletiva e individual: de todos e de cada um de nós. Não é apenas culpa do sistema, nem dos tempos que mudaram, nem do habitual “é o que é”. “É” porque deixámos que fosse assim. Porque mudar o que está mal ou mantermo-nos fiéis ao que acreditamos exige esforço. E o esforço assusta num mundo habituado a comprar tudo pronto - onde até o pensamento parece vir embalado.

 


Vânia Ferreira

 
 
 

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